E assim se passou mais um dia. Mais um dia em que tu não estiveste presente. Mais um dia que passei com pessoas com quem não o queria passar. Quando será que chega o momento de passar os meus dias com quem quero? Ou será que é melhor começar a gostar das pessoas com quem passo os meus dias? E já agora, quem raio és tu e por onde andas???
Lembro-me várias vezes daquela “oração”: “dá-me forças para mudar as coisas que não posso aceitar, capacidade para aceitar as coisas que não posso mudar, e inteligência para distinguir entre ambas…” e penso se isso se pode aplicar à minha vida… 30 anos, solteira, sem namorado, com um trabalho que não gosto, uma casa que já me arrependi de ter comprado e a meio de uma licenciatura que parece não ter fim… Sem esquecer o peso a mais, as varizes que começam a aparecer e as estrias que teimam em não desaparecer… Estou à espera da inteligência para distinguir as coisas que posso e não posso mudar, mas a sacanita parece não querer aparecer…
E adoro ler o meu horóscopo:
“Hoje é um bom dia para começar um negócio. Evite as parcerias, pois podem dar-lhe problemas. A pessoa amada pode parecer algo distante, mas é um momento passageiro.”
Pois… eu até começava um negócio, mas cadé o dinheiro? Também evitava as parcerias, se pudesse, mas de que raio de parcerias estão a falar? Do grupo do euromilhões? Da malta que divide o carro? Da malta que divide o almoço? E quanto à pessoa amada…. Deve parecer mesmo um pouco distante, já que nem sei quem é!!! A criatura devia ter uma mensagem gravada na testa: “ agradece-se a quem encontrar o favor de devolver à outra metade, que está ansiosamente à espera.” Mas será que ainda existem outras metades?
Ou será que as outras metades de hoje em dia têm todas 1,75 m (pelo menos), 60 kg (no máximo) e bom aspecto durante todo o dia, incluindo pela manhã, altura em que o resto de nós só espera estar desperta o suficiente para não pôr o açúcar na torradeira, não se esquecer de tomar o café depois de o ter preparado, ser capaz de pôr o rímel nas pestanas sem espetar a escova no olho e sem esquecer de trocar os chinelos pelos sapatos antes de sair de casa.
Curioso é que, mesmo com 30 anos, a minha mãe ainda me trata como se tivesse 7 e não soubesse falar “vais à padaria e dizes assim: a minha mãe mandou dizer que o pão ontem estava mal cozido e que hoje queria mais bem cozido, mas sem estar demasiado cozido, porque senão fica duro”. Pois…., eu vou mesmo chegar à padaria e começar a conversa por “a minha mãe mandou dizer…” já me acham um bocado estranha, assim ficavam a ter a certeza que não era propriamente normal…
Se bem que ser normal é uma coisa muito relativa… Afinal de contas o que é ser normal? É ser como a Joana, que terminou o curso com 22 anos, casou com 23 e já tem duas crianças? Não é que seja mau, mas não sei… parece-me que ficou a faltar qualquer coisa… acho que é experiência de vida, ou vida com experiência…
Ora aí está uma boa pergunta para fazer na net. Sim, que isto agora todas as perguntas existenciais têm que ser feitas na net, ou não são perguntas existenciais. Pergunta existencial que se preze tem que ter página na net, blog, e mais coisas que nem faço a menor ideia…
Se não como poderíamos transmitir a uma série de pessoas que não conhecemos, e que até podem viver no prédio do lado e apenas não nos cruzamos ainda, os nossos pensamentos mais íntimos, as nossas ideias mais disparatadas, enfim, tudo o que nos vai na alma, na esperança que tudo aquilo faça sentido para alguém e que esse alguém tenha a coragem de nos dizer que para ele aquilo tudo faz muito sentido, e que só não sabia como o pôr em palavras, e que já há muito tempo que sentia a mesma coisa e não sabia com quer partilha-la porque de cada vez que tentava ficava tudo a olhar para ele como se ele fosse um extraterrestre verde com antenas cor de rosa vivo e olhos roxos às bolinhas amarelas, e ele tinha que disfarçar dizendo coisas como “li num blogue na net, também me pareceu disparatado…”
É assim que as perguntas existenciais, ideias fantásticas e afins se colocam hoje em dia: num blogue. Se a pergunta existencial for mesmo pertinente, sobrevive, cresce, multiplica-se… se for disparatada o suficiente também. E se fizer parte de uma mensagem em cadeia que termine a dizer “se não passares isto a 300.000 pessoas nos próximos 20 segundos, nunca mais vais fazer sexo, vão te cair as partes intimas por falta de uso, vais ficar desempregado, na miséria e os teus filhos nunca irão sair de casa” … nunca mais a pergunta existencial/ideia disparatada tem fim!!!
Mas a net tem coisas fantásticas. Por exemplo, sexo mais seguro não há. OK, podemos estar a fazer sexo com um homem ou com uma mulher e pensar que estamos a fazê-lo com o sexo oposto, podemos pensar que estamos a falar com alguém cujas fotos são lindas de morrer e que sorte nós temos em um gajo podre de bom (ou podre de boa, que os homens também sofrem do mesmo mal…) e, afinal, estamos a dar conversa ao gorduroso do 11º de um prédio que não conhecemos, (e ainda bem, se não éramos capazes de o atirar do 11º andar por nos andar a dar esperança de um amor puro…), mas quantas vezes em sexo real não é a imaginação que nos safa… quando tudo o resto falha.
Tudo bem, sexo na net não é mais do que masturbação com ideias de outras pessoas, mas as nossas ideias podem estar a precisar de ser renovadas, né? E a pornografia não serve para isso mesmo, para dar um descanso à nossa imaginação, que já está cansada de ter que arranjar desculpas para o chefe, pelos atrasos (o meu elevador encrava-se tanta vez…), desculpas para não se sair com o Zé Manuel, que até é um querido, mas fala demasiado alto, mastiga com a boca aberta e ainda é a mãe que lhe escolhe a roupa, desculpas para não ter que conhecer os filhos das amigas/colegas e afins da mãe, que nos quer desencalhar à força toda, porque o resto da família/ bairro/ conhecidos comentam se eu não serei uma daquelas que… antigamente ficavam para tias, iam viver com uma “amiga” para não estarem sós e tinham montes de gatos…